Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

ancestralpampilhosense

A intenção é partilhar este meu gosto pelas antiguidades, pelas histórias, pelas tradições e tudo o que tenha a ver com o património pampilhosense e sensibilizar os descendentes da Pampilhosa da Serra a darem mais valor às suas raízes!

A intenção é partilhar este meu gosto pelas antiguidades, pelas histórias, pelas tradições e tudo o que tenha a ver com o património pampilhosense e sensibilizar os descendentes da Pampilhosa da Serra a darem mais valor às suas raízes!

Dia de Santa Rita

Altar de Santa Rita.JPG

 (Altar e retábulo da Capela de Santa Rita)

 

Maio é o mês de Maria, das mães, mas é também o mês de Santa Rita, pois este festeja-se a 22 de maio.

Santa Rita de Cássia nasceu em Roccaporena (Itália) no ano de 1381 e faleceu a 22 de maio de 1457 em Cássia. Desde criança que demonstrou vontade de se consagrar à vida religiosa mas, para obedecer a seus pais, casou-se aos doze anos. Após a morte do marido e dos seus dois filhos ingressa no mosteiro das irmãs Agostinianas. Durante catorze anos e até à sua morte, trouxe um estigma na testa, estando associado à paixão de Cristo. Foi beatificada em 1627 e canonizada pela Igreja Católica em 1900. Os milagres que lhe são atribuídos são tantos e tão extraordinários que é considerada “advogada das causas perdidas e santa do impossível”. É padroeira das causas impossíveis, dos doentes, das mães e esposas que sofrem pelos maus tratos dos maridos. Costuma estar representada com um espinho cravado na testa, com rosas e crucifixo.

A fama de Santa Rita espalhou-se por toda a parte e depressa chega a Portugal.

Na vila de Pampilhosa da Serra construiu-se uma capela particular em sua honra que, segundo estudo de Ana Paula Branco, poderá ser ainda do século XVII, pois o culto a Santa Rita começa logo por altura da beatificação. Quem habitava a casa onde está incorporada a capela, em 1763, era o Capitão Custódio Homem Castelão de Brito Leitão que pagava foro a Marcos de Torres de Portalegre, tendo também que paramentar a Capela de Santa Rita. Este Marcos de Torres era descendente da família proprietária da casa que deixaram a vila para exercer cargos de sargento-mor, tabelião e outros.

Durante vários anos a casa era conhecida como sendo a “Casa dos Melos” porque os netos do referido Capitão, Luís de Mello Castelão de Brito Brandão, Custódio de Mello Brandão, D. Maria Catarina e José Feliciano de Mello Brandão, terão habitado nesta casa até morrerem.

A casa, a capela e propriedades foram compradas nos anos vinte do século passado, por José Augusto Nunes Barata, tesoureiro da Fazenda Pública, a descendentes da família Mello Castelão de Brito Brandão.

José Augusto Nunes Barata e sua esposa, Maria da Anunciação Lucas Barata, professora, e seus dois filhos, a Dr.ª Maria Luísa, que apesar dos seus 93 anos, continua com uma cultura e lucidez admirável e o falecido Dr. José Fernando que doou os 8.000 livros da sua biblioteca particular à Biblioteca Municipal, souberam preservar com dignidade a casa e a capela e foi por esse cuidado que este património com história chegou aos nossos dias.

Os proprietários, a família Barata de Brito, pretendem classificar a casa e a Capela de Santa Rita. Sem dúvida uma boa notícia para o concelho de Pampilhosa da Serra que vai ter assim, salvaguardado, um património importantíssimo da identidade pampilhosense.

 

SAM_3968.JPG

 (Coro da Capela de Santa Rita)

 

 

Bibliografia:

- "A casa dos Melos e a capela de Santa Rita na Pampilhosa da Serra - A sua antiguidade e os sucessivos proprietários" por Ana Paula Loureiro Branco, fevereiro de 2017;

- A Comarca de Arganil, n.º550, ano XI, 12 de outubro de 1911;

- Sítio dos parentes e amigos de Ângelo Queiroz da Fonseca;

- https://pt.wikipedia.org/wiki/rita_de_cassia

 

 

Agradecimentos:

- À Dr.ª Maria Luísa Nunes Lucas de Brito;

- Ao Dr. Mário Correia;

- À Dr.ª Ana Maria Barata de Brito;

- À Dr.ª Ana Paula Loureiro Branco;

 

Nossa Senhora da Misericórdia

N. Senhora da Misericórdia.jpg

(N. Senhora das dores no Altar proveniente da Capela de S. Bartolomeu de Pencanseco do Meio. Fotografia de 1965.)

 

As tradições quaresmais e pascais em Pampilhosa da Serra sempre foram manifestações de uma grande religiosidade popular. Estas manifestações são comuns em todo o interior de Portugal, existindo na atualidade regiões em que estão extintas enquanto noutras, as tradições pascais intensificaram-se. Na Pampilhosa da Serra continua a ser das cerimónias religiosas mais marcantes do ano, destacando-se as celebrações que vão desde o domingo de Ramos até ao domingo de Páscoa. As mais expressivas são: A Bênção dos Ramos, a Procissão do Encontro, a Cerimónia do Lava-Pés inserida na Missa da Ceia do Senhor, a Procissão do Senhor da Cana Verde e a Procissão do Enterro do Senhor.

Graças ao empenho dos guardiões da nossa herança cultural, as mordomas da Capela da Misericórdia, os párocos e um conjunto de voluntários que se prontificam para ajudar a levar os andores, as lanternas, os símbolos da Bíblia, a ser mandatários nas procissões, bem como as vestideiras das crianças, que a Semana Santa continua a fazer parte da nossa identidade.

No entanto, houve tradições que se foram perdendo e não chegaram aos nossos dias, como as representações cénicas, da Verónica com o Santo Sudário que durante a procissão do Enterro do Senhor subia ao púlpito da Igreja e à varanda dos antigos Paços do Concelho para cantar: “Ó vós homens que passais pelo caminho, parai e vede, se há dor semelhante à minha”, de Maria Madalena que chorava durante as procissões.

As colchas brancas penduradas nas janelas e varandas ainda continuam a fazer parte das tradições pascais mas, no passado, em algumas casas, cosidos à colcha estavam os “Martírios do Senhor”, constituídos por uma coroa de espinhos, os pregos grandes, um martelo pequeno e uma escada pequena.

colchas nas janelas.jpg

 (Pormenor das colchas nas janelas durante as procissões da Semana Santa)

 

Outra tradição que já vem do fundo dos tempos, é a participação do Grupo Musical Fraternidade Pampilhosense nas procissões da Semana Santa, tocando “Saudade”, esta da autoria de Jaime Henriques da Cunha, “Lágrima” de José Nunes Afonso, “Maria Emilia”, “A meu pai”, “Frio de morte”, entre outras.

 

pormenor do altar.jpg

 (Pormenor do altar proveniente de Pescanseco do Meio)

 

Sendo a fotografia de 1965 a preto e branco, não é percetível ver os pormenores do azul das vestes de Nossa Senhora. Na Sexta-Feira Santa o vestido usado é preto, com um colar de prata e um coração com sete espadas, oferecido por Filomena Dias da Veiga, mãe do saudoso presidente da Câmara, José Augusto Veiga Nunes de Almeida. A coroa em prata engrandece a imagem de Nossa Senhora.

 

Nossa Senhora na Sexta-Feira Santa.jpg

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

(Imagem de Nossa Senhora na Sexta-Feira Santa)

 

 

Agradecimentos:

À Sónia Simões,

Ao Dr. José Braz,

Ao Dr. Júlio Cortez Fernandes,

Às mordomas da Misericórdia: Laurinda Simões e Esmeralda Alexandre,

Ao maestro Pedro Ralo,

À D. Lúcia Conceição Almeida,

À Dr.ª Nazaré Nunes.

Três anos do blogue Ancestralpampilhosense!!!

3 anos do blogue.jpg

Sempre gostei de velharias, mais propriamente de velharias que tenham pertencido a pampilhosenses, porque penso que preservando os objetos estou a preservar e a respeitar a memória dos anteriores proprietários.

O blogue Ancestralpampilhosense nasceu após umas pesquisas na internet sobre uma travessa e um prato grande, azul e branco, que a minha avó paterna me deu há vários anos atrás. A minha pesquisa levou-me a uns blogues muitos interessantes sobre velharias, são eles: Velharias do Luís (de Luís Montalvão), Arte, livros e velharias (de Maria Andrade) e Trapos cacos e velharias (do Flávio Teixeira). Com eles aprendi muita coisa sobre velharias e faiança. Aprendi, por exemplo, que o motivo da minha travessa e prato grande, azul e branco, se chama Cantão Popular e que não os posso atribuir a nenhuma fábrica ou fabricante, porque não tem marca.

Prato e Travessa na estante.jpg

 

E os blogues do Luís, da Maria e do Flávio fizeram-me pensar em criar um blogue, mas um blogue onde colocaria as minhas pesquisas sobre o passado pampilhosense. E este passado pampilhosense inclui a história, as pessoas, a paisagem, os objetos, etc.

Desta travessa e prato grande, sei apenas que a decoração é Cantão Popular, apesar de os achar muito parecidos com uma jarra que a Maria Andrade fotografou nas reservas de cerâmica do Museu Municipal Santos Rocha, na Figueira da Foz, e que atribuía esse tal jarro à Fábrica dos Carritos (perto da Figueira da Foz).

Não sei quem foi o fabricante desta faiança, mas sei um pouco da sua história.

A minha avó paterna, Isaura de Jesus Pereira, herdou a travessa e o prato de uma tia, irmã da sua mãe, que faleceu solteira na aldeia da Covanca (freguesia de Fajão-Vidual). O seu nome era Glória de Jesus. O meu pai sempre a tratou por Ti Glória e diz que ela era a “rainha da tigelada”. Ele lembra-se que em criança, ia com os seus irmãos às povoações vizinhas comprar ovos, para ela fazer as tigeladas que lhe encomendavam por altura das festas e casamentos.

Imagem2.jpg(Os bisavós da aldeia da Covanca com os oito filhos. A Ti Glória era irmã da minha bisavó, Maria da Nazaré de Jesus)

 

Não sei em que data nasceu a Ti Glória, mas sei que faleceu no dia 25 ou 26 de março de 1984 com 89 anos. Eu estava com a minha avó, tinha quatro anos, quando fomos ao funeral da Ti Glória, a Porto da Balsa. Apanhamos boleia no carro dos correios, que na altura funcionavam um pouco como táxis. Ficamos a pernoitar em Fajão, em casa da Ti Joaquina (irmã da minha avó) e só no dia seguinte, novamente à boleia dos correios, regressamos à aldeia de Sobral de Cima, a terra que os meus avós paternos adotaram, para afastar os filhos das minas da panasqueira.

E foi assim, através desta faiança que herdei dos meus ancestrais da aldeia da Covanca, que iniciei esta aventura do blogue. Aqui vou escrevendo memórias e colocando fotografias do passado pampilhosense, para não deixarmos esquecer as nossas raízes!

Cantão Popular com tigelada.jpg

 

Programa da Semana Santa

 

IMAG0549.JPG

Semana Santa 2017 em Pampilhosa da Serra

 

Domingo de Ramos – 9 de abril

10:30 – Bênção dos Ramos (Praça Barão de Louredo) e procissão para a Igreja Matriz onde será a Eucaristia.

18:00 – Procissão do Encontro (A procissão tem início na Praça Barão de Louredo, junto à Igreja da Misericórdia).

 

Quinta-Feira Santa – 13 de abril

18:00 – Missa da Ceia do Senhor (Igreja Matriz)

21:00 – Procissão do Senhor da Cana Verde (Praça Barão de Louredo)

 

Sexta-Feira Santa – 14 de abril

15:00 – Celebração da Paixão do Senhor (Igreja Matriz)

18:00 – Procissão do Enterro do Senhor (Praça Barão de Louredo)

21:15 – Via-Sacra (Começa na Igreja e termina no Cristo Rei)

 

Sábado Santo – 15 de abril

21:30 – Solene Vigília Pascal (Igreja Matriz)

 

Domingo de Páscoa – Ressureição do Senhor – 16 de abril

11:00 – Eucaristia e procissão da Ressurreição (Igreja Matriz)

 

Dia Mundial da Água

 

Moradias água 1.jpg

 (Inauguração do abastecimento de água na povoação das Moradias, 31 de agosto de 1956)

Nos dias de hoje, ter água em casa passa pelo simples gesto de abrir uma torneira. Mas houve tempos em que ter água implicava um ritual de ações que iam desde sair de casa com um cântaro para se deslocar à fonte mais próxima e fazer o trajeto de volta a casa. E antes que surgissem as primeiras fontes, o que existia era poças de chafurdo sem o mínimo de condições higiossanitárias.

Para a construção de fontes e outras melhorias nas suas aldeias, as pessoas uniram-se, formando comissões ou ligas de melhoramentos, uma vez que, as contribuições do Estado não cobriam a totalidade das necessidades das populações e as Câmaras Municipais na altura tinham poucas verbas. Foi graças ao trabalho e persistência destas ligas que muitas aldeias pampilhosenses foram vendo nascer alguns progressos.

As fotografias que vos trago são do dia 31 de agosto de 1956, por ocasião da festa da Senhora da Boa Viagem, e mostram o dia da inauguração de três fontanários, de um bebedouro e um lavadouro na aldeia de Moradias. Podemos ver o Presidente da Câmara da altura, Luís Gonzaga Nunes de Almeida, Júlio de Almeida, delegado pelas Moradias da Comissão de Melhoramentos das Quatro Povoações Unidas, entre outros elementos da Comissão e convidados.

O abastecimento de água à povoação de Moradias resultou do financiamento do Estado e de angariação de fundos, promovida pela Comissão de Melhoramentos das Quatro Povoações Unidas. Esta Comissão era constituída por elementos das povoações de Moradias, Moninho, Soeirinho e Vale de Carvalho, foi fundada a 20 de maio de 1945, com Antonino Simões no cargo de presidente, João Evangelista como tesoureiro e José Maria Nobre secretário.

4 povoações unidas A Comarca de Arganil de 22 ja

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

(Notícia da Comissão de Melhoramentos das Quatro Povoações Unidas em A Comarca de Arganil de 22 de janeiro de 1946.) 

 

À semelhança do que aconteceu em todas as aldeias do concelho da Pampilhosa da Serra, esta comissão surge para colmatar necessidades que as suas aldeias tinham, com uma particularidade diferente da maioria por ser constituída por quatro aldeias e ter delegados das quatro aldeias em Lisboa e nas localidades que representavam.

Os vários elementos da Comissão eram responsáveis por angariar donativos, que depois serviam para melhoramentos nas suas aldeias e ajuda à população. A ela se deve, por exemplo, a compra de uma carreta funerária, a construção da casa funerária para arrecadação da carreta, a construção da Escola de Moninho em 1949, a reconstrução da Capela das Moradias, assim como outras melhorias.

Moradias água 2.jpg

 

Uma curiosidade, quando falecia alguém numa destas quatro aldeias, era a Comissão que providenciava tudo, desde a compra da madeira, pregos e tecidos para as urnas, o transporte na carreta, a missas pela alma dos falecidos. A Comissão fazia recolha de milho por todas as pessoas, a chamada “contribuição do milho” que depois era convertida em dinheiro para o orçamento deste serviço que prestava à comunidade.

Aqui ficam, alguns apontamentos para a história da aldeia das Moradias e da Comissão de Melhoramentos das Quatro Povoações Unidas.

1 subscrição para fonte nas Moradias.jpg

(Cabeçalho de uma folha onde foi feita uma subscrição para a construção das fontes na aldeia das Moradias. Na parte inferior do cabeçalho poderia ler-se os nomes das pessoas que contribuiram com donativos, a localidade dessas pessoas e a quantia oferecida.)

 

Moradias 3.jpg

 

 

Bibliografia:

A Comarca de Arganil, n.º3.159 de 3 de julho de 1945;

A Comarca de Arganil, n.º3.214 de 22 de janeiro de 1946;

A Comarca de Arganil, n.º4.541 de 11 de agosto de 1956;

Livro de movimentos do tesoureiro geral delegado da Comissão de Melhoramentos das Quatro Povoações Unidas 1946-1963;

Correspondência da Comissão de Melhoramentos das Quatro Povoações Unidas.

 

Agradecimentos:

Ao senhor José Almeida, mais conhecido por "Zé das Moradias", por todas as fotografias, documentos e tempo dispensado.

 

Centenário do nascimento de Urbano Duarte

N.º8.jpg

(Fotografia de Urbano Duarte cedida pelo jornalista Mário Martins)

 

A 21 de fevereiro de 1917, há precisamente 100 anos, nasce em Pescanseco do Meio, Urbano Duarte, filho de Urbano Duarte e Felismina Gaspar, o primeiro de sete filhos do casal. Seu pai e tios foram imigrantes na América.

 

casa onde nasceu.jpg(Casa onde nasceu Urbano Duarte em Pescanseco do Meio)

 

Em idade escolar, vai viver com um primo do seu pai, padre João de Deus, em Vinha da Rainha (Soure).

Por influência e exemplo do seu familiar, entra no Seminário de Coimbra, no ano letivo de 1929/ 30. Teve como professor de português o Padre Américo e, se Urbano Duarte já tinha o gosto pela língua pátria, o professor Padre Américo ajudou a reforçar esse seu interesse. Foi sempre um bom aluno e destacou-se dos seus condiscípulos, sendo um dos cinco alunos escolhidos para estudar no estrangeiro.

Vai para Roma, no ano de 1934, na companhia de António de Brito Cardoso, futuro cónego da Sé de Coimbra e de Manuel Almeida Trindade, designado Bispo de Aveiro, em 1962. Completa o curso de Filosofia e Teologia. É ordenado Padre, em Roma, em 23 de março de 1940, com 23 anos de idade.

Chega a Coimbra nesse mesmo ano de 1940, e é convidado a integrar a equipa formadora do Seminário. É professor de Eloquência, de Dogmática Especial (curso de Teologia do Seminário). Foi também professor de Religião e Moral na Escola Avelar Brotero, no Liceu D. João III (hoje Liceu José Falcão) e professor de Filosofia no Colégio da Mealhada.

Urbano Duarte torna-se muito conhecido em Coimbra por ser professor de milhares de jovens. Tinha uma maneira diferente de ensinar e educar e por esse motivo as suas aulas eram frequentadas por muitos jovens.

Como sacerdote também se destaca. É Prefeito do Seminário e Capelão da Universidade, Pregador da Sé e Cónego do Cabido.

Mas é como jornalista que Urbano Duarte se vai destacar mais pela sua sabedoria e facilidade de comunicação. Começa no semanário Correio de Coimbra como colaborador na década de 40, é nomeado diretor em 1951 e permanece no Correio de Coimbra até à sua morte.

Imagem3.jpg(O Cónego Urbano Duarte em 1951, quando é nomeado diretor do Correio de Coimbra)

 

 

Em 1952 chega ao Correio de Coimbra o padre e artista, Monsenhor Nunes Pereira, para chefe de redação. Os dois pampilhosenses serão companheiros de jornada durante mais de duas décadas.

 

Urbano Duarte de Manuel de Almeida Trindade 1.º V(Crónica de Urbano Duarte sobre a chegada de Monsenhor Nunes Pereira ao Correio de Coimbra. Página 124 do livro Urbano Duarte de Manuel de Almeida Trindade)

 

As crónicas que Urbano Duarte escrevia no jornal, designadas por “ Sintomas”, saíam na 1ª página, estando muitas vezes mais destacadas do que o nome do jornal ou mesmo do que as outras notícias.

O facto de uma das avenidas de Coimbra ter o seu nome, mostra o quanto foi grande a sua presença na vida coimbrã e o quanto era estimado.

A 10 de junho de 1993, treze anos após a sua morte, Mário Soares atribui-lhe a comenda de Grande Oficial da Ordem de Mérito.

O pampilhosense sacerdote, professor e jornalista, nunca esqueceu as suas origens, era costume a sua passagem pela aldeia natal, Pescanseco do Meio. Escrevia também sobre este povo serrano que denominava de “gente trabalhadora” e sobre estas aldeias da serra que, ele dizia serem “a alma portuguesa” e “um celeiro riquíssimo de qualidades morais”.

Faleceu na noite de 16 de maio de 1980 no seu quarto, no Seminário Maior de Coimbra.

 

Urbano Duarte um mês e meio antes de falecer com

 (Fotografia de Urbano Duarte um mês e meio antes de falecer.)

 

 

 

Bibliografia:

Trindade, Manuel de Almeida, Urbano Duarte (1 vol.), Coimbra,Gráfica de Coimbra, 1989.

Martins, Mário, Urbano Duarte: Crónicas dos Anos Quentes (1971-1980), Edição do autor, 2014. (martins56@gmail.com)

 

Agradecimentos:

Jornalista Mário Martins

D. Elza Gaspar

D. Helena Teodoro

 

 

Guilherme Filipe, pintor de Fajão e os 120 anos do seu nascimento

janeiro 2017.jpg

Guilherme Filipe,  junto do quadro do Infante D. Henrique

Blogue: http://pintor-guilherme-filipe.blogspot.pt/

 

 

Em 1897, nascia em Fajão, aquele que viria a ser um dos mais conceituados pintores da sua época, Guilherme Filipe Teixeira, filho de uma família abastada da então Vila de Fajão. A sua «alma de artista» cedo começou a demonstrar ânsia de escalar as montanhas que lhe escondiam os universos que ele tanto queria conhecer. Apesar da tristeza dos pais por verem partir um filho para outras terras, estes não o impediram de tentar encontrar o mundo que imaginava. Esse mundo, nunca o encontrou, mas ele continuou a existir dentro dele. Como ele escreveu: “Tudo acaba, só os grandes sonhos hão de ficar.”

De Fajão parte para Lisboa, onde estuda na Escola de Belas-Artes tendo como patrono o Dr. Cândido Soto-Maior, frequenta os cursos livres da Sociedade Nacional de Belas Artes e os ateliês dos Mestres José Malhoa e Conceição e Silva.

De Lisboa segue para Madrid, estuda na Real Academia de Belas Artes de São Fernando e é aluno de Joaquin Sorolla. Participa em várias exposições individuais e coletivas, em tertúlias artísticas e literárias. Monta ainda um ateliê com os escultores José Planes e José Clará. E é em Madrid que Guilherme Filipe diz viver momentos que a sua sensibilidade nunca esquecerá.

De volta a Portugal, instala-se em Coimbra, onde o poeta Eugénio de Castro lhe proporciona um ateliê na Faculdade de Letras. É em Coimbra que realiza a sua primeira exposição individual, em 1922. A segunda exposição é realizada em Lisboa, para onde se muda depois.

Guilherme Filipe volta a ausentar-se de Portugal, passa por Paris e várias cidades espanholas, realiza várias exposições, conferências e publicações e quando regressa definitivamente a Portugal (1932), não é só à pintura que se dedica.

Em 1934, no Estoril e com o patrocínio de Guilherme Cardim, Fausto Figueiredo e com a colaboração de Augusto Pina, funda uma Escola de Ação Artística e Intelectual.

Muda-se para Nazaré e durante os anos em que vive na Nazaré, funda o Jardim Universitário de Belas Artes (J.U.B.A.), a 6 de setembro de 1944. Este projeto do Jardim Universitário, que ele diz já existir no seu espírito há 24 anos, tinha como objetivos cultivar a arte, as letras e as ciências, promovendo o seu progresso, ao mesmo tempo que proporcionava residência e outros meios materiais aos artistas e intelectuais para que cada um fizesse a sua obra “com amor, liberdade e independência.”

Promoveu reuniões e debates públicos de arte, filosofia, de ciência e de história, assim como sessões de cinema.

A sua alma de criador, não imitou o que outros já tinham feito, criou um estilo diferente, um estilo pessoal e não se limitou a pintar, quis levar cultura à civilização.

A sua amizade com o escritor Miguel Torga fez com que hoje encontremos textos e poemas feitos pelo escritor em terras da Pampilhosa da Serra.

Faleceu em 1971 e é sepultado no cemitério da sua terra natal, terra que nunca esqueceu e onde parte da sua obra fica imortalizada em quadros que pintou na Capela de Nossa Senhora da Guia.

A Revista Cultural Arganilia dedicou-lhe duas edições, e assim, com o seu excelente trabalho, hoje conhecemos este nosso artista pampilhosense. O nosso jornal Serras da Pampilhosa também o recordou na rubrica Presenças do Passado. E a sua sobrinha-neta, Rita Cortês, criou uma página na Wikipédia e brevemente publicará o blogue http://pintor-guilherme-filipe.blogspot.pt para dar a conhecer a um maior número de pessoas a vida e obra deste pintor de Fajão.

Com esta fotografia, que Rita Cortês amavelmente cedeu do seu blogue http://pintor-guilherme-filipe.blogspot.pt/, comemoramos os 120 anos do nascimento deste grande pintor e impulsionador cultural.

Uma vez que estamos a iniciar um Novo Ano, trago-vos um pensamento deste artista para refletirmos: “Tudo o que se diz, o que se escreve e o que se pensa existe. A imaginação é o receptor de novas energias transcendentes: Os sonhos de hoje, são as realidades de amanhã.”

 

 

Algumas ligações e bibliografia consultada:

 

https://pt.wikipedia.org/wiki/guilherme_filipe

http://pintor-guilherme-filipe.blogspot.pt/

Arganilia, Revista Cultural da Beira Serra, II Série, n.º16, dezembro de 2002.

Primeira Exposição Guilherme Filipe em Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra, Coimbra, 1922.

Torga, Miguel, Diário XI, 2ª Edição Revista, Gráfica de Coimbra, Coimbra, 1991.

 

Monsenhor Nunes Pereira e a defesa do património

Monsenhor Nunes Pereira era uma homem com inúmeras qualidades, e uma das que lhe admiro, para além do seu talento e humildade, era a de ser um defensor acérrimo do património.

A digitalização que se segue foi retirada da Comarca de Arganil de 14 de fevereiro de 1936. É um texto escrito por Monsenhor Nunes Pereira  e um desenho de Avô feito por si, em Côja.

O assunto do artigo é o sítio da construção da escola de Avô. Monsenhor diz terem sido feitas várias reuniões para encontrar o local da futura escola e que até houve uma sugestão que a escola deveria ser feita no local do Castelo de Avô.

Monsenhor Nunes Pereira, em relação a este assunto, diz: "Não sendo eu de Avô, pouco me pode interessar a escolha do local para a nova escola; porém, como estudioso dos nossos monumentos, julgo ter o direito de discordar da escolha do Castelo para a referida construção. O Castelo é o Castelo, e mais nada deve ser, e isso lhe basta para se impôr. Construir edifícios dentro dele, ainda que seja uma escola, é profaná-lo. Em vários castelos se teem construido igrejas, cemitérios, etc., mas foi numa época de ignorância em matéria arqueológica. Hoje, vemos doutra forma os castelos, e assim é que a Capela de Santo António, junto ao Castelo de Montemor, está condenada a desaparecer. O castelo de Avô, em minha humilde opinião, deve ser venerado, acarinhado, restaurado se for possivél, mas não profanado. Se, porém, houver opinião contraria mais autorizada, façam o que entenderem."

E ainda, no mesmo artigo, em relação à demolição dos balcões de Avô, diz: "Consta-nos que a junta de freguesia, logo que o tempo melhore, vai mandar proceder à demolição dos balcões aqui existentes e continuar com os trabalhos da Rua Diamantino da Fonseca. Eu não sei se a junta vai demolir todos os balcões de Avô, ou se apenas os da rua Diamantino da Fonseca, e também ignoro se realmente é necessário demolir os balcões daquela rua. O que quero deixar bem expresso, é o meu protesto veemente contra a má vontade aos balcões. Com que amargura Marques Abreu se referia, há tempos, a essa postura de certas câmaras que pretendem banalizar as nossas vilas e aldeias tão típicas e interessantes, que devem o seu cunho especial precisamente às varandas e aos balcões! E com que amargura também eu recordo o lindo alpendre ou balcão quinhentista da casa mais antiga de Côja, ali à Praça, o qual foi demolido sem necessidade alguma, para em seu lugar se erguer uma casa vulgar e inestética! Mas valerá a pena a gente protestar? Hoje não se olha o que é belo; olha-se o que dá lucro. É, todavia, necessário que alguém vá remando contra a maré, para que amanhã não tenhamos que lamentar o desaparecimento de todos os balcões da nossa linda Beira."

 

Coja.jpg

 A Comarca de Arganil, n.º2.221, de 14 de fevereiro de 1936.

 

Se nos dias de hoje, continua a ser difícil fazer ver o quanto é importante preservar o que restou do nosso património, imaginem a dificuldade de Monsenhor Nunes Pereira no início do século XX.

 

 

Os Contos de Fajão e outros contos

Assim se rosna por sua vila e termo.jpgPEREIRA, Augusto Nunes, Os Contos de Fajão, Museu e laboratório Antropológico Universidade de Coimbra, Coimbra, 1989.

Assim se rosna por sua vila e termo 2.jpg

 PEREIRA, Augusto Nunes, Os Contos de Fajão, Museu e laboratório Antropológico Universidade de Coimbra, Coimbra, 1989.

 

Monsenhor Nunes Pereira fez uma recolha etnográfica dos ancestrais Contos de Fajão, ilustrou os contos e estes foram publicados pelo Museu e Laboratório Antropológico da Universidade de Coimbra no ano de 1989. A Junta de Freguesia de Fajão editou os mesmos contos no ano de 2000. Existem também xilogravuras dos Contos de Fajão feitas por Monsenhor Nunes Pereira.

Mas não foram só os Contos de Fajão que Monsenhor recolheu e fez chegar aos nossos dias, existe folclore e outros contos recolhidos por si, como este conto da Mata.

O compadre da vila e o compadre da aldeia.jpg

(Revista Cultural ARGANILIA n.º8)