Dia Mundial da Água
(Inauguração do abastecimento de água na povoação das Moradias, 31 de agosto de 1956)
Nos dias de hoje, ter água em casa passa pelo simples gesto de abrir uma torneira. Mas houve tempos em que ter água implicava um ritual de ações que iam desde sair de casa com um cântaro para se deslocar à fonte mais próxima e fazer o trajeto de volta a casa. E antes que surgissem as primeiras fontes, o que existia era poças de chafurdo sem o mínimo de condições higiossanitárias.
Para a construção de fontes e outras melhorias nas suas aldeias, as pessoas uniram-se, formando comissões ou ligas de melhoramentos, uma vez que, as contribuições do Estado não cobriam a totalidade das necessidades das populações e as Câmaras Municipais na altura tinham poucas verbas. Foi graças ao trabalho e persistência destas ligas que muitas aldeias pampilhosenses foram vendo nascer alguns progressos.
As fotografias que vos trago são do dia 31 de agosto de 1956, por ocasião da festa da Senhora da Boa Viagem, e mostram o dia da inauguração de três fontanários, de um bebedouro e um lavadouro na aldeia de Moradias. Podemos ver o Presidente da Câmara da altura, Luís Gonzaga Nunes de Almeida, Júlio de Almeida, delegado pelas Moradias da Comissão de Melhoramentos das Quatro Povoações Unidas, entre outros elementos da Comissão e convidados.
O abastecimento de água à povoação de Moradias resultou do financiamento do Estado e de angariação de fundos, promovida pela Comissão de Melhoramentos das Quatro Povoações Unidas. Esta Comissão era constituída por elementos das povoações de Moradias, Moninho, Soeirinho e Vale de Carvalho, foi fundada a 20 de maio de 1945, com Antonino Simões no cargo de presidente, João Evangelista como tesoureiro e José Maria Nobre secretário.
(Notícia da Comissão de Melhoramentos das Quatro Povoações Unidas em A Comarca de Arganil de 22 de janeiro de 1946.)
À semelhança do que aconteceu em todas as aldeias do concelho da Pampilhosa da Serra, esta comissão surge para colmatar necessidades que as suas aldeias tinham, com uma particularidade diferente da maioria por ser constituída por quatro aldeias e ter delegados das quatro aldeias em Lisboa e nas localidades que representavam.
Os vários elementos da Comissão eram responsáveis por angariar donativos, que depois serviam para melhoramentos nas suas aldeias e ajuda à população. A ela se deve, por exemplo, a compra de uma carreta funerária, a construção da casa funerária para arrecadação da carreta, a construção da Escola de Moninho em 1949, a reconstrução da Capela das Moradias, assim como outras melhorias.
Uma curiosidade, quando falecia alguém numa destas quatro aldeias, era a Comissão que providenciava tudo, desde a compra da madeira, pregos e tecidos para as urnas, o transporte na carreta, a missas pela alma dos falecidos. A Comissão fazia recolha de milho por todas as pessoas, a chamada “contribuição do milho” que depois era convertida em dinheiro para o orçamento deste serviço que prestava à comunidade.
Aqui ficam, alguns apontamentos para a história da aldeia das Moradias e da Comissão de Melhoramentos das Quatro Povoações Unidas.
(Cabeçalho de uma folha onde foi feita uma subscrição para a construção das fontes na aldeia das Moradias. Na parte inferior do cabeçalho poderia ler-se os nomes das pessoas que contribuiram com donativos, a localidade dessas pessoas e a quantia oferecida.)
Bibliografia:
A Comarca de Arganil, n.º3.159 de 3 de julho de 1945;
A Comarca de Arganil, n.º3.214 de 22 de janeiro de 1946;
A Comarca de Arganil, n.º4.541 de 11 de agosto de 1956;
Livro de movimentos do tesoureiro geral delegado da Comissão de Melhoramentos das Quatro Povoações Unidas 1946-1963;
Correspondência da Comissão de Melhoramentos das Quatro Povoações Unidas.
Agradecimentos:
Ao senhor José Almeida, mais conhecido por "Zé das Moradias", por todas as fotografias, documentos e tempo dispensado.